segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Na contramão
Fatboy Slim - Praise You
LINKS: Tradução / Myspace / Wikipédia
Existe uma fórmula para um bom vídeo clipe? Com certeza, não.
Basta um pouco de criatividade para surpreender as expectativas e fugir do padrão, sem muitos investimentos a única alternativa é explorar a simplicidade com originalidade.
Algumas pessoas se deixam iludir com uma seqüência fantasiosa, composta por um jogo de imagens, idéias vazias e ausência de conteúdo.
De preferência, o ideal seria a sensação de um plano fora do âmbito que estamos acostumados na realidade, só para quebrar o gelo e reforçar a proposta de entretenimento.
Uma postura excessiva que apela para recursos com efeitos especiais e cenários extraordinários, mesmo sem nexo, são elementos suficientes para agradar os olhos de quem não possui uma sensibilidade crítica, capaz de alcançar um julgamento final coerente.
Sem dúvida um bom vídeo clipe não significa um encadeamento de ilustrações descartáveis, desperdício de dinheiro e poluição sonora.
Quando a intenção se esforça em sobressaltar os conceitos e parâmetros a palavra chave é: fertilidade.
domingo, 28 de setembro de 2008
Deixa eu brincar de ser feliz – Um conto de solidão
Um dos princípios da hipnose é o sono quando olhamos fixamente um objeto por muito tempo, por isso, aquela imagem do hipnólogo com um relógio de bolso nas mãos nos é tão forte em termos de atração. A mesma sensação hipnótica tem Herbert ao olhar por muito tempo o limpador de pára-brisas do carro em movimento. A chuva é pouca e o barulho da borracha das paletas sobre o vidro vinha numa constante ritmada. A estrada é faz tempo uma linha reta e Herbert pouco se movimenta dentro do veículo, ele não precisa trocar as marchas, ou virar o volante ou ainda pressionar mais ou menos o acelerador. Este é o trecho da Rio-Santos, logo depois de Ubatuba e Herbert está a caminho de Paraty. Para piorar a situação, não é possível sintonizar muito bem a maioria das rádios e Herbert procurou por um bom tempo no dial, indo e voltando várias vezes, até que algum som pudesse finalmente ser encontrado. Herbert ouviu apenas o refrão "...deixa eu brincar de ser feliz..." e o quarentão, que não conhecia nada sobre a música ou sobre a banda, gostou do que ouviu.
Herbert é a figura do jornalista infeliz e sempre fora taxado por este adjetivo porque é uma daquelas pessoas dominadas pelas outras. Essa impressão de "frouxo" que temos de Herbert vem com o tempo. Numa primeira olhada, dá para se enganar com a postura visceral e explosiva dele frente aos problemas. Usando uma máquina de raios-X, vemos que Herbert era dominado por seus colegas de trabalho, pelos seus filhos e por uma esposa que, se dependesse das vontades ocultas dele, já seria ex há muito tempo. Podemos afirmar usando uma margem de 80% de acerto: talvez nem jornalista ele seria se não fosse obrigado a isso na infância. O curioso é que as mulheres exercem um maior poder sobre Herbert. Por gostos e decisões pessoais talvez, vemos a vida de Herbert apenas pelo lado negativo, o lado fracassado..., mas temos outras verdades para dizer ao seu respeito: o homem é um gênio das redações por onde passa e se fosse um mercenário, seria hoje uma pessoa muito rica e poderosa. Não era assim, pois Herbert temia a Deus, o Deus cruel e impiedoso do Velho Testamento.
Naquela noite e sem motivo algum, Herbert decidiu se libertar daquela situação. Foi assim mesmo! Ele não precisou de nenhum evento como "gota d'água". Quieto e com a polidez habitual, pegou seu carro e resolveu dirigir sem destino até que as idéias de que fazer com o peso da sua própria vida ficassem mais claras. Herbert mora bem próximo ao centro de São Paulo e quando se deu conta já estava na Rio-Santos a caminho de Paraty. Durante esses anos todos, Herbert foi hipnotizado pela vontade dos outros. Ele tinha crises existenciais pelo menos três vezes ao dia e não sabia muito bem o que fazer com elas no plano concreto. De verdade, ele pedia com toda fé a Deus que o livrasse daquele cálice.
Num rompante desses, espera-se que a pessoa seja "iluminada" de alguma forma e busque forças para mudar de vez aquilo que "emperra" a sua felicidade. Herbert dirigia sem destino em busca da tal "iluminação". Como ela não veio mesmo, Herbert abaixou a cabeça mais uma vez e sentiu muita vergonha. Ele vai voltar para casa, vai pedir desculpas para os filhos que o manipulam, para a esposa que não ama, para a amante - seu verdadeiro amor - que talvez nunca vá assumir e pela manhã, vai acordar bem cedo para não chegar atrasado ao trabalho. E o que ele vai fazer lá? Defender aquilo que não acredita.
PS: Baseado na canção ‘Todo Carnaval Tem Seu Fim’ da banda Los Hermanos.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Qual é
por Leandro Tavares
O clipe exalta talvez um dos mais expoentes músico brasileiro dos últimos tempos, no inicio da década de 90 fez parte de um grupo chamado Planet Hemp. Um grupo sem rodeios para mencionar palavras fortes em suas músicas, tanto é que chegaram a ser presos por seus atos.
O ponto central de minha fala na verdade é sobre o clipe, então vamos a ele – o nome da música é, qual é? Fazendo um pergunta a todos sobre a razão social que algumas pessoas estão inseridas no país e aos negros.
Basicamente ele (o clipe) tem duas versões num só, já que a música proporciona essa conotação, primeiro fala das gerações desde as crianças até os mais velhos, mostrando suas necessidades, limitações que se tem pelo perímetro urbano e a realidade social que a maior parte do brasileiro faz parte, o subúrbio.
Marcelo D2 é conhecido por esse tipo de música, aliando RAP ao Samba, coisa que poucos conseguiram fazer. Seu jeito de encarar a realidade dizendo a todos o que realmente acontece nos grandes centros, fez dele ser respeitado em todas as classes da sociedade - seja rica ou pobre. O lado B do clipe (vamos dizer assim), no meu ponto de visto, foi o que chamou mais minha atenção.
Ele trata dos negros, tanto que a música a todo o momento diz: “qual é neguinho qual é” sempre simbolizando a raiz do Brasil, no caso os negros. O preconceito que o negro sofre ao chegar a algum lugar, as desconfianças que se tem dos negros, o olhar virado ao ver um negro passar e principalmente deixando bem claro que os negros nunca têm o lado bom das coisas, e sim os restos.
Tem um momento do clipe que o próprio D2 como é chamado, faz gesto que foi feito nas olimpíadas de Montreal em 1976 o Apartheid, que entrou para a história da humanidade. Enfim, de forma ampla o seu propósito é demonstrar a realidade que está distante de muitos de nós.
domingo, 21 de setembro de 2008
Sabotagem
Hoje se fala muito em como a linguagem dos videoclipes - cortes secos, falta de linearidade, rapidez - influenciou o cinema comercial. Nesse post vamos falar um pouco do contrário.
"Sabotage" é uma das faixas do "Ill Communicaton", um dos mais conhecidos álbuns do grupo de hip-hop norte-americano Beastie Boys. Nele, como mencionado, temos o exato oposto do que vemos hoje nas grandes películas Hollywoodianas: um filme dentro de um videoclipe. Os três rapazes (senhores?) novaiorquinos encarnam os papéis de três dos mais durões inspetores de polícia que topam qualquer parada para enfrentar o crime.
Qualquer pessoa com meia massa encefálica funcional pode identificar em Sabotage pelo menos uns duzentos filmes e seriados de ação rodados da década de 1970 a o começo da 1990 - Havaí 5-0, Starsky e Hutch, Miami Vice, ou qualquer um do Charles Bronson, que Deus o tenha. As cenas fecham com a letra em um formato totalmente sinestésico, mas simples: falam-se de grampos, armadilhas e vingança. Nada mais justo para uma música chamada "sabotagem". Isso tudo, e estamos apenas em 1994.
Nada disso é de graça ou muito menos fruto da sorte, porém. O diretor desse vídeo é um pequeno monstro da indústria cinematográfica chamado Spike Jonze - que, alem de ter dirigido dezenas de videoclipes em sua carreira, também tocou Adaptação e Quero Ser John Malkovich. Ele também ajudou criar e produzir a série Jackass.
Esse vídeo é junção da genialidade de um diretor capaz de pensar totalmente fora dos padrões com o amor de toda uma geração por filmes de policiais durões com o espírito inegavelmente urbano dos Beastie Boys - e do hip-hop. Em 2004, a revista Rolling Stone elegeu Sabotage como uma das 500 melhores músicas de todos os tempos.
Realidade que dói
Na minha opinião, um dos melhores clipes nacionais já feitos. O Racionais foi uma banda que revolucionou a música brasileira. Mano Brown e seus amigos abriram os olhos do país, de que há uma periferia prestes a explodir e que a realidade não é só o que a novela diz. E mostra uma periferia não acomodada. E que não vai engolir qualquer coisa que se passa na TV. Acho que o RAP é muito importante para a cultura, pois faz a periferia ter uma identidade própria. O líder da banda, Mano Brown, não é uma pessoa culta. Fala errado e em seu discurso há erros de concordância e muitos outros. Mas o importante é a idéia que ele passa. Seu discurso humilde incomoda os hipócritas que acham que moramos na Suíça. Estes mesmo hipócritas que têm um discurso racista contra o presidente Lula, simplesmente porque fala para o povo e se faz entender.
Falando um pouco sobre o clipe, que é uma junção fantástica entre a letra e o vídeo. Todos estão acostumados a ouvir discursos de ir para a rua, mudar o país, derrubar a burguesia entre outros tantos. Nada contra poetas que escreveram brilhantemente este tipo de protesto, como Cazuza e Renato Russo. Mas os Racionais escrevem de forma direta. Sem rodeios, sem metáforas, sem comparações com filósofos e estudiosos. O vídeo, que se passa na ex-casa de detenção do Carandiru é simples. Chocantemente simples. Eles andam pelo presídio e cantam. Esse vídeo é combinado com uma letra fortíssima que mostra a situação desse presidiário. Além disso, Mano Brown canta mostrando todas essas emoções. Emoções que mudam de acordo com a letra. Algumas vezes o presidiário se mostra desesperado em outras, ele se mostra calmo. Em outros momentos, ele está completamente descrente de tudo, e em outros ele mostra o pouco de fé que ainda há dentro dele. Bom, é melhor para de falar.
veja o clipe.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Mundo Livre S/A usa ficção para interpretar visualmente suas músicas
Os dois clipes são completamente diferentes entre si, mas compartilham, além da música da banda, uma estrutura narrativa de ficção, como se fossem pequenos curtas-metragens.
“Laura Bush tem um senhor problema” começa em uma luxuosa cobertura em Boa Viagem, Recife, onde um homem aparentemente poderoso está aos gritos com uma garota, que se revolta e resolve tomar várias doses de cachaça na beira da praia. Uma outra mulher a encontra e as duas seguem andando pela cidade até chegarem a um morro de Casa Amarela, quando acontece uma manifestação contra um político.
O clipe prende a atenção, foge de redundâncias e impressiona pela fotografia, mas foi prejudicado comercialmente por causa das cenas de beijo entre as duas personagens. Percebe-se que todas as imagens foram feitas no Recife, mas a história poderia se passar em qualquer lugar que tenha favelas convivendo com bonitas paisagens e altos edifícios.
“Carnaval inesquecível na Cidade Alta” lembra filmes de Fellini e Buñuel ao se situar no limite entre o real e o irreal. O clipe é um delírio carnavalesco, uma viagem de um bêbado jogado no meio das ruas de Olinda, uma alucinação com personagens de visual absurdo, como a punk com tranças rastafári, um frentista que enche a cara de gasolina e um estilista louco.
A Mundo Livre S/A liberou todas as suas músicas para quem quiser produzir seu próprio clipe, no sistema de Creative Commons, ou CC, que é uma opção para o © do Copyright, onde o artista libera sua obra para alguns usos, inclusive comerciais, dependendo da licensa.
O sistema Creative Commons será tema do meu próximo post.
Laura Bush tem um senhor problema
Carnaval inesquecível na Cidade Alta
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Videoclipe é Arte?
Anos 20, a recém-criada sétima arte entra numa fase de vanguarda e com ela os cineastas Dziga Vertov e Walther Ruttman começam a articular imagens, música e novas formas de montagem para conseguir modelos inéditos de narrativa. Para estes cineastas, novas formas significavam uma transcendência do meio (cinema) frente ao teatro e literatura. As obras O Homem com a Câmera e Berlim e Sinfonia da Metrópole se parecem muitos com os atuais videoclipes.
Musicais ou filmes cheios de música já eram muito utilizados por Hollywood nos anos 50, mas em nada diferiam da experiência de um show, por exemplo. Quando no início da pesquisa sobre videoclipes, acreditei que o primeiro era Rock Around de Clock. Nada disso. Em poucos cliques, descobri que o primeiro foi um vídeo publicitário dos Beatles, da música Strawberry Fields Foverer, de janeiro de 1967. Ao assisti-lo, o espectador também não terá mais dúvidas: estamos diante de um legítimo videoclipe.
Mas, o que diferencia a estética videoclipe daqueles filmes musicais de Elvis Presley dos anos 50, por exemplo?
Alguns elementos – que serão continuamente abordados neste blog – dão as pistas:
- Montagem (ou cortes): transição de uma imagem para outra. Geralmente em videoclipes, as imagens duram poucos segundos e a montagem é feita de forma fragmentada, descaracterizando a linearidade da cena;
- Iconografia: são os elementos que reforçam a identidade cultural, coisas como figurinos, cenários surreais, animações e tipografias próprias.
É um termo que parece fora de lugar, mas, o que mantém coeso um videoclipe?
Para muitos, o videoclipe não possui lógica alguma. Se assim é, então, qualquer seqüência de imagens aleatória montada sobre uma trilha sonora pode ser considerada um videoclipe?
Não. O videoclipe possui uma coesão cultural e sinestésica que, não raras às vezes, nada tem a ver com a letra da música. Este é o objetivo deste blog, traduzir um pouco desta Estética Videoclipe. Embora porta-estandarte da cultura pop, portanto, feita especificamente para o consumo das massas, a estética videoclipe possui valores artísticos que influenciam cinema, TV (MTV & Cia), vídeo arte e agora a Web.
Sobre Strawberry Fields Forever
Traduzindo ao pé da letra, o que temos é o Campo de Morangos. Na realidade, ele nunca existiu. Strawberry Fields era o nome de um terreno em Liverpool onde se localizava o Exército da Salvação. John Lennon costumava brincar no local durante a infância.
A canção fala sobre a recordação da infância, de lembranças líquidas que temos e que na idade adulta tornam-se cercadas de uma espécie de aura sagrada. É uma música sobre recordar.
Ao estilo próximo do cineasta da memória Allain Resnais em um dos seus mais conhecidos filmes, o Ano Passado em Marienbad (1961), o clipe traz esta aura mágica da lembrança. Dá-se a impressão que John Lennon, da idade adulta, consegue transcender tempo e espaço e volta para o seu magnífico Strawberry Fields juntos com seus outros três amigos de Liverpool.
As seqüências são de um sonho estranho e bom. Os recursos de montagem, se comparados aos dias atuais, são simples, mas geniais. E os Beatles? Eles também não foram assim? Segundo o filósofo Rumi do século XII, “existe um lugar que devemos encontrar além do certo e do errado”, um ponto de segurança. Para John, Paul, George e Ringo, este lugar é Strawberry Fields.