quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O dia em que São Paulo “tomou um doce”




Por Cristian Boragan

“Antes de nada eu gostaria de explicar, segue agora um mosaico de imagens mil, chamado a Marchinha Psicótica de Dr. Soup...” – assim, com um cenário branco, uma cadeira e uma cartola, o performático Júpiter Maçã, apesar de conhecido apenas no circuito alternativo, começa o seu único clipe: A Marcinha Psicótica de Dr. Soup. Vemos imagens do que conseguimos distinguir como o centro de São Paulo. Um carnaval fora de hora acontece lá. É como se a cidade tivesse se rendido ao LSD. Para quem conhece a obra deste artista gaúcho, não é de se estranhar uma abordagem assim. No CD anterior, a 7ª Efervescência Galáctica, Júpiter Maçã explora o universo das drogas com as já clássicas Abrindo as Tortas e as Cucas e Miss Lexotan 6mg, Garota. O bizarro carnaval segue pelas ruas e pessoas – provavelmente moradoras – olham assustadas e curiosas para tudo aquilo. Júpiter e uma bandinha – daquelas ao estilo de fanfarra das escolas – seguem seu caminho ao som do refrão: “ ... e pra provar, minha querida, este amor tão radical, eu escrevi esta marchinha para tocar no carnaval...”. É uma cena surreal, uma marchinha conduzida por alguém que lembra o Coringa, arquiinimigo do Batman. Se pudessem ouvir a letra, os moradores concordariam com um dos trechos: “bem-vindos à orgia niilista, ai que gostoso, que delícia, muito mais paulista, anunciados, o homem-bala e a mulher-canhão”. Como suas músicas, Júpiter Maçã é um daqueles talentos originais brasileiros reconhecidos por poucos aqui em terras brasileiras, a maior parte do seu público é de fora. Graças àquela teimosia que alguns por aqui ainda temos em buscar a originalidade, Júpiter Maçã e muitos outros continuam a esperar o dia em que a arte deles seja de fato reconhecida pela grande imprensa.

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